Declaro-me entre os silêncios lívidos
Entre os lapsos profundos e catárticos
Ampulhetas lácteas entre as palavras
Meus sentimentos abissais cor de anil
Podem ser abraçados de tão felpudos
Basta seguir a trilha para aquela gruta
Aquela! Lá! Vê a rocha vestida de musgo?
Sou eu
Em gruta não deságuam arrepios de trilhos
A constante morta do trem lotado de almas perdidas
entre existir e viver no risco do não ser
Em gruta irrompem e transmutam almas afáveis
A natureza distinta do concreto e da rocha
reside na artificialidade que há no outro
Na rocha, das camadas de vida há brotos
Água e clorofila vicejante: o que esquecemos ser
10 Comments
Lindo esse seu olhar subterrâneo, de gruta, de musgo, de úmido que afinal são na verdade essas escavações no meio da terra, na direção de seu centro que são os metros… Obrigada por nos tirar do comum, do óbvio e nos levar para pensamentos abissais. “Declaro-me entre os silêncios lívidos. Entre os lapsos profundos e catárticos.” Sentimentos intensoa, felpudos, peludos e macios que podem até ser abraçados… O que pode a poesia, nê? A força da rocha vestida de musgo! Que força que tem a poetiza, a rima, a trova, o verso! Tudo que esquecemos ser! Que bom que você não esquece! Obrigada.
Obrigada pelo abraço felpudo que foi seu comentário! <3
Imagens muito bonitas, gostaria de ler mais sobre essa gruta/estação e sobre a relação entre rocha, concreto e sentimentos (um tema que também gosto de explorar).
Voltemos à gruta, então! 😉
Você conseguiu trazer à tona “sentimentos abissais” para nos brindar com poesia, vida a brotar. Me lembrou os versos do Milton “E há que se cuidar do broto/Pra que a vida nos dê/Flor…”
Sinto que aqui brotamos!
Monica
Você tem uns achados incríveis: “A natureza distinta do concreto e da rocha reside na artificialidade que há no outro…” Rocha vestida de musgo” . Inspiração forte e precisa dentro do túnel dos teus sentimentos felpudos.
Maria Júlia
Roda felpuda!
Obrigada, Vaneska! Também me surpreendi com o caminho que a imagem construiu dentro de mim. Estou curiosa para ver as construções de vocês! 😀
“A constante morta do trem lotado de almas perdidas, entre existir e viver no risco do não ser”… coisa mais linda esses versos, Mônica. Seus poemas são surpreendentes. Esse me pareceu o mais denso deles.