
Olá!
Olá? Quem é?
Sou você.
Como?
Sim, sou você-eu-você!
Como assim eu-você-eu?
Eu, você, nós, não importa.
Só quero te lembrar.
Lembrar, lembrar de que?
De que você ama cocada branca.
O que?
Sim, cocada branca!
Você fecha os olhos quando come e sorri.
É lindo! Faz cocada!
Como assim?
Faz cocada pra sorrir sonhando!
Quem sabe você lembre do café.
Café, que café?
O cafezinho de botequim, meio fervido,
bebido no copo de vidro,
em pé no balcão da padaria.
É verdade… eu gosto, ou gostava…
Não! Você adora!
Como adora sambar miudinho sábado de manha!
Mas não tem mais graça…
Tem sim! É só por a música e lembrar do beijo!
Beijo, que beijo?
Ah, qualquer beijo, de preferência os que te roubaram
e te fizeram sonhar sorrindo.
Igual as cocadas, ou parecido.
Faz cocada!
Para como isso, quem disse que eu sei fazer cocada?
Sabe sim!
E sabe olhar manhosa,
Sabe derramar carinho,
Sentir cheiro de lavanda atrás da orelha.
Também sabe sorrir com os olhos,
passar batom sem espelho,
abrir champanhe,
e assar queijo sem derreter,
Sabe arrumar cama bonita
e rodar a saia na ciranda.
Faz cocada!
Faz cocada e lembra,
Lembrar de mais o que?
De você! Lembra de você.
5 Comments
Poesia das coisas que realmente contam, das coisas que nos deixam felizes. Das pequenas e maravilhosas delícias do cotidiano.
Doces lembretes de quem nós somos e não podemos esquecer por conta das circunstâncias. Somos feitos de pequenos detalhes, tão saborosos como uma cocada. E não tem nada lá fora. Está tudo dentro.
“Lembrar de mais o que?/ De você! Lembra de você.” – a simplicidade da frase poética que nos impacta fundo. Seu texto me chamou a atenção para a ideia de que lembrar quem a gente é praticar quem somos, todos os dias, a despeito das condições adversas. Que lista de coisas lindas para sermos!
Ah, faz cocada sim, me derreto com cocadas! As alegrias, por enquanto adiadas, da vida cotidiana e a sua poesia que nos traz elas de volta. Beleza, Dora!
De arrepiar (literalmente). Que lindeza o inevitável encontro consigo mesmo (forçado pelas circunstâncias), em forma de poesia. Uma de mim tá aqui gritando alucinadamente: faz cocada, faz pipoca doce! E viva o café da padaria!