É preciso subir ladeiras no escuro. Descer ladeiras no escuro. É preciso subir e descer. Abandonar vertigens.
Não ter medo do tempo. Para o que passou, gratidão. Para o que virá, entusiasmo. Para o que não para de correr, calma.
É preciso encarar escolhas. Errar muito e enormemente. Acertar em silêncio. Absolver-se sempre.
É preciso reconciliação: com nossos corpos, dores, fragilidades.
É preciso encerrar as buscas. Paralisar as escavações. Não tem nada no fim. Só mesmo caminhos e neles a plenitude. Total atenção aos caminhos.
Sim, é preciso plantar árvores, flores, temperos. É preciso colher.
Aceitar quem são ou foram nossos pais e irmãos, ainda que para tanto seja necessária compaixão.
Compreender que para muitos somos só necessários. Não martirizar-se por isso. Não duvidar de sentimentos genuínos, porque para tantos outros bastará o que somos.
É preciso amar de novo, o novo. Reamar o mesmo amor. Desatar nós. É preciso, como aqueles antigos, carregar o maxilar inferior dos nossos mortos.
Sim, Olavo, é preciso ouvir e entender estrelas. Para tanto, é preciso amar.
É preciso gozar por todos os poros. Gozar do bom, do melhor e do inevitável.
É preciso não tardar em ceder ao perdão – quando ele é possível. Isso, às vezes, dependerá de misericórdia.
Que o ódio seja breve e as mágoas efêmeras.
É preciso ser livre, resignando-se ao fato do contrário de liberdade ser, grande parte das vezes, conforto, segurança, certezas. É preciso não recear o voo.
Pra gente, finalmente, crescer, é preciso uma coragem danada.
*Ouvir Estrelas, Olavo Bilac
* Tarde de maio, Carlos Drummond de Andrade
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Belo e sábio, obrigada Vaneska
"É preciso encerrar as buscas. Paralisar as escavações. Não tem nada no fim. Só mesmo caminhos e neles a plenitude. Total atenção aos caminhos…" Vaneska, "pra gente finalmente crescer" e entender que "é preciso viver como se não houvesse o amanhã"… como já nos cantava Renato Russo. Viver o aqui e o agora. "Para o que passou, gratidão. Para o que virá, entusiasmo. Para o que não para de correr, calma." Você não é Zen Budista mas seu texto tem tudo a ver com o Budismo: "é preciso aceitar, amar, absolver-se, reconciliar-se, compreender e ter compaixão, é preciso ouvir e entender estrelas… Parabéns e obrigada.
A quase todos nós, Eliana.
Vaneska
Ah, Julia…infelizmente não.
Em forma de decálogo, seu texto me fez desejar algo corajoso. Queria que ele fosse escrito em fogo em minhas mãos. Assim eu o consultaria na hora que precisasse. O tempo todo. Queria… Mas não cresci e me falta coragem.
Vaneska, dear, você é uma pessoa muito talentosa! Um prazer ler seus textos. Também destaco a frase que Carolina destacou: "É preciso encerrar as buscas. Paralisar as escavações. Não tem nada no fim. Só mesmo caminhos e neles a plenitude. Total atenção aos caminhos".
Texto repleto de metáforas bonitas e originais. Uma pergunta:você é zen budista? M. jÚLIA
Concordo com a Mônica, os textos parecem se complementar. Gostei muito desta frase: "É preciso encerrar as buscas. Paralisar as escavações. Não tem nada no fim. Só mesmo caminhos e neles a plenitude. Total atenção aos caminhos."
Havemos precisão de tantas coisas, mas esquecemos que para saber dessas necessidades já temos aquilo de que mais se precisa: "uma coragem danada" de encarar o precipício, de crescer, de reamar, de viver dias difíceis.
Nossos textos estão num diálogo bonito!
É preciso voar sem saber das asas!