
No final, uma boa surpresa!
O meu bosque começa na larga avenida, continua pelo sul e segue pelos confins de Judas. Tem muitas entradas, algumas saídas, todas convergem ao redor de uma ou duas cidadezinhas ao sudoeste da capital. Aprecio a sua história gloriosa, foi confeccionado durante os anos trinta do século passado no período da Grande Depressão, para dar uma ocupação a milhares de desempregados; é praticamente artesanal, três vezes maior que o Central Park de New York, tem cerca de quatro milhões de visitantes por ano, o acesso é fácil. É só pegar a bicicleta, atravessar uma ponte, entrar na alameda povoada por casuarinas densas e escura. Depois vem um caminho sinuoso que se bifurca: um vai para uma senda que acompanha o rio, o outro, para um chalezinho por onde certamente passaram João e Maria e agora ninguém parece habitar. A vegetação é densa de verdes e verduras, certas plantas são raras e recebem proteção ambiental. Mas não se iludam: o cenário, não é o de fadas, bruxas, duendes, mas sem dúvida, tem os seus mistérios. Há alguns anos, o desparecimento de uma menina de quatro anos, deixou todo o país aflito. A polícia fez enormes buscas, diurnas e noturnas. Puseram cães, patrulhas especiais, paranormais especializados em telecinese, gente que encontra coisas ou pessoas escondidas com o uso de uma vara ou um pêndulo. Uma semana depois, logo aqui, onde me encontro, na encruzilhada depois da ponte de ferro, pertinho da casa de João e Maria, o latido insistente da matilha indicou que seu lobo esteve por aqui. Um gorrinho de lã e uma botinha de borracha atirados num charco, apareceram. Mas ainda que, sedutor e perverso, para mim é um local de acolhimento, um eterno Sangri-la. Esqueço a Grande Depressão dos anos 30, a Grande Crise Mundial em que agora vivemos, e pedalo a um metro e meio dos ciclistas, como manda o figurino, ao som de Pavarotti. Assim, nem mais, nem menos:
Vieni, c’è una strada nel bosco,
Il suo nome conosco,
Vuoi conoscerlo tu?
Vieni, è la strada del cuore,
Dove nasce l’amore
Che non muore mai più.
7 Comments
Como sempre, um texto muito “visual”. A gente passeia junto. Deliciosa a costura da história da “confecção” do bosque, do bosque em si e das histórias que habitam o bosque!
Tenho recordações de ter passado parte da infância das minhas meninas, visitando quase que diariamente durante o verão, a piscina com águas rasas para refrescar, a pancake house maravilhosa… tão bom, a leitura do teu conto me fez viajar no tempo…
Ai ai ai! Quero esse passeio quando for aí novamente. Ok?
No final da leitura fica o desejo, partir imediatamente em viagem para o bosque de Amsterdã. A descrição, que vai do motivo social da construção à beleza de uma “alameda povoada por casuarinas densas e escuras”, ganha contornos sinistros com a história do desaparecimento de uma garotinha. O clima é de cinema. O desfecho também. Música de Pavarotti a convidar, Vieni, c’è una strada nel bosco.
Como na vida e na literatura, a estrada do bosque se bifurca abrindo para novos caminhos, novos olhares, novos acontecimentos que podem ser tanto bons quanto ruins. Seu texto deixa entrever que podemos sim escolher nosso caminho!
Amei o texto, Ju/ no início impliquei com o verbo “confeccionar” para se referir à construção do bosque/ senti como se fosse andando e admirando a natureza e, de repente, topasse com uma construçao nadaaver com o ambiente bucólico/ depois, qdo li “…a forma artesanal…”, captei a harmonia do texto e aceitei seguir avante no deleite do passeio/ adorei a finalizaçao/ parabens!/
Sabe, o seu texto me trouxe à memória um fragmento da minha infancia, num fundo de quintal, no suburbio do Rio/ que bom!
Fiquei imaginando o passeio, os caminhos, fiquei com a impressão que é uma delícia pedalar por aí