Elaine Morais
Hoje por força do destino abri uma caixa de cacarecos.
Encontrei cacarecos tão ridículos ali dentro que achei graça de mim.
O brinco esquerdo de um par perdido, tampões de orelha, um batom seco.
Todos esperando eventual uso.
E ri da crença nos cacarecos úteis.
Então abri outra caixa menor ainda.
Encontrei cacarecos tão ínfimos ali dentro que senti carinho por mim.
Miçangas de uma pulseira arrebentada, um pedregulho, uma estrelinha de plástico.
Todos eles sem uso.
E chorei de carinho pelos cacarecos inúteis.
Era tão inexplicável guardá-los que senti saudades de mim.
Saudade da época em que guardar cacarecos era natural.
Saudade da doce inocência de quem nunca passou por grandes perdas.
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Obrigada Maria Julia e Vaneska, fico muito Feliz que gostaram.
Olá Elaine! Que delícia seu texto. Delicado, bonito, poético. Fiz de imediato uma conexão com o meu, quando você fala da "saudade da doce inocência de quem nunca passou pelas grandes perdas". Seu texto traz exatamente esse sentimento.
Vaneska
Simples, delicado e sutil Elaine. Boa lembrança escrever sobre essas coisas. Também eu tenho umas caixinhas com guardados semelhantes que me dão saudades. Maria Júlia