
Sol, areia, verde, muito verde, nas folhas das palmeiras, no mar, no topo das carnaubeiras, nas réstias de vegetação por sobre os areais. Aqui foi deserto? Pode ser. Um Sahara do lado oeste do Atlântico, gerando com o falar de anos o nome Ceará, ou Ceará Mirim, pedaço do, hoje, Rio Grande do Norte.
Por aqui corre um rio paralelo ao mar até nele chegar, cumprindo seu destino, aliviando o sal das águas praieiras.
Pedras, parrachos, arrecifes, misturas de solos pétreos e arenosos, manchas vermelhas revelando o aflorar do ferro na terra. De pedras no mar, das dunas de areia que se movem e reconfiguram o cenário. Estamos na beirinha do continente onde no mapa o vemos possível de se encaixar no recorte africano do Golfo da Guiné. É. Deve ter havido a tal da Pangeia ligando toda a terra e fazendo-a crosta dura na superfície e magma derretido no seu interior. Mole, mas com força para movimentar os pedaços, construindo continentes e movê-los para tão longe, apartados da sua comunhão terrenal.
Talvez sejamos assim também: crosta, casca, couro, pele, escondendo o que arde, inundando e separando nosso ser em partes dispersas e fugidias.
Tanta beleza! Tanto prazer em estar na água! Ver golfinhos mergulhando! Peixes escondendo-se na vegetação dos recifes! É uma natureza boa de se ver e de se sentir.
Mas aí, surge uma onda…não do mar, não, não. De gente!
Ônibus, vans, buggies, carros, motos. Todos, como que com hora marcada, chegam despejando ondas de pessoas. Escutam-se vários idiomas, mas o português é ainda o dominante. Sim, tanta belezura não fica incólume! O turismo chegou, sem volta, para ocupar, de forma móvel ou com suas construções mais rígidas, este pedaço de paraíso do planeta.
Restaurantes, bares, vendedores, fotógrafos todos se movem para captar o que lhes interessa: o tilintar de moedas ou o apertar de botões das maquininhas dos cartões de plástico.
Rio Grande do Norte, pedaço do Eden-Brasil, pontinha da América do Sul, suas praias, falésias e dunas foram capturadas pelo turismo de massas!
Mas, veja bem, nem podemos criticar… porque graças ao turismo, esta atividade de várias caras e dimensões, tivemos acesso a tanto sol, tanta praia boa de ver e de se banhar, pois pousamos de avião com centenas de gringos, vindos do velho continente, a se render a esta fusão de sol com areia, de camarão com pimenta, de tapioca com bolos, biquinis com chapéus. Tudo gostoso, regado a cachaça ou caipirinha, talvez água de côco ou, ainda, suco de frutas.
Só resta a reflexão: haverá limite para tanta gula de prazer? Haverá freio à cobiça por lucrar?
Apenas o futuro dirá se a beleza resistirá ao ser humano, este predador em busca de prazer….
Recife, 31 de janeiro de 2020
3 Comments
Luiza seu texto me lembrou um que escrevi há algum tempo e também falava dos continentes e sua separação. Além disso, estive em Recife contigo por alguns momentos e isto não é pouco, obrigada!
Um abraço,
Elaine
Ler seu texto, Luíza, foi como se estivesse a me banhar em reconforto. Na dureza do isolamento, praias, coqueiros, golfinhos parecem pertencer a um mundo de sonhos. Até a multidão de turistas, situação impossível agora, me fez sorrir.
Texto poético, delicadamente crítico e necessário para nós brasileiros, que não conseguimos mais enxergar a beleza de nossa terra. Nos impede o momento. Nos assola doença social e biológica. Mas tudo passa. Que nos reste a literatura e a poesia.
Luiza
A sua última frase tão verdadeira! .O texto me deu vontade de voltar a Natal, ao Nnordeste, ãs ondas verdes do mar!
M. Júlia