
Laroyê!
Você guardião da casa de Oxalá
vigilante das encruzilhadas,
servidor obediente,
que ganhou de Olodumare
o direito de homenagem
e o cargo de mensageiro.
Laroyê!
Você que em todas as estradas,
reconhece as pegadas
de quem sofre as mazelas do mundo,
Protege teu povo!
O povo que marcava as estradas de África
com pegadas leves de alegria,
com pegadas fortes de energia
com pegadas juntas de amor.
E que nessas terras de cá
passou a banhar suas pegadas
de lágrimas, suor e sangue.
Laroyê!
Você que roda o mundo
nos passos do vento,
Protege teu povo!
Pois mesmo passados os tempos,
os costumes e ritos,
mesmo a Terra tendo girado tantas giras
e as estrelas brilhado tanto
brilhos quase eternos,
as pegadas nas estradas de cá
ainda são de sofrimento!
Se antes eram de pés descalços,
hoje são de pés que correm
e caem derrubados,
deixando marcas de corpos
Humilhados e às vezes mutilados!
Se antes eram marcas
de pés nas gorduras das cozinhas
ou molhadas de leite para outros filhos,
hoje são marcas de pés espremidos
em sapatos baratos
atrás de rodas de carrinhos.
Carrinhos de compras
de uma comida que não é sua.
Carrinhos de bebês
que também não são seus.
Pegadas de gente que manca
de idade, de cansaço ou de dor.
Pegadas de quem paralisa pra chorar,
ou que não prossegue por desistir.
E por todos esses você olha,
de perto ou de longe,
atuando ou avisando.
Vivendo tua sina sagrada de guardião
Que não deixa pegadas!
Mas que balança no teu passar
as margaridas das beiras das estradas.
Mojubá Exu, Laroyê, Afé okan!
4 Comments
Texto sobre rastros de uma história de opressão e resistência que ainda perdura, mas que vc reconta com muito ritmo e com essa bela imagem das pegadas, das estradas e do guardião Exu.
Que cântico. Merecedor de figurar como oração ou música de afirmação de um povo que resistiu e resiste nessas terras manchadas de sangue e lágrimas. Contundente e poético. Vigoroso. E vigor é o que precisamos para continuar a resistir, para vencer e renascer em solidariedade.
“O povo que marcava as estradas de África
com pegadas leves de alegria,
com pegadas fortes de energia”
Dora, você com sua poesia e seu jeito delicado vai percorrendo as estradas da nossa História!
Lindo chamado às injustiças de nossa sociedade tão racista e desigual. Belas imagens desses pés que percorreram um caminho tão longo, tão longe de casa para encontrar seu destino sem horizonte até hoje. Mas ainda há de haver forças para seguir!