A notícia veio quando a vó Lourdes já era mãe de cinco e avó de dois. Nem tinha completado a idade que tenho hoje: é câncer dona Lourdes, é câncer.
Era câncer num tempo em que isso nem era palavra que se dissesse. Há quarenta e sete anos, era sentença de morte sofrida.
Ouviu a tia, que morreria cinco anos depois, sussurrar: tadinha da Lourdes, nem vai ver o neto nascer. Tão nova. Como era nova a velha vó Lourdes.
Era câncer, e era a filha mais velha grávida pela primeira vez.
Era câncer, será que tinha fé?
Médicos da cidade grande. Cirurgia. Seis meses de internação. Vó Lourdes saía ainda viva do hospital.
Dezessete de dezembro de 1972, aniversário da Vó Lourdes. Eu nasço.
Dezessete de dezembro de 2018. Estamos as duas atrás de nosso bolo de aniversário de oitenta e nove e quarenta e seis anos, um bolo cheio de flores como a vó sempre gostou. Gente que gosta de flor é quase imortal.
5 Comments
“Gente que gosta de flor é quase imortal”. Pude daqui sentir o doce perfume dessas pessoas imortais!
Obrigada por compartilhar esse milagre em forma de história, ou a história de um milagre, num estilo que parece simples e direto, mas é engenhoso e tão comovente.
Presente em forma de palavras tecidas em linhas de afeto. É a vida, a vida. Como sua leitora e fã, agradeço.
Sucinto, claro, comovente e lindo. Que bom, Vaneska, que a vó Lourdes esteja aí com vocês!