Em um dia, sem nada de especial olhei para o olhar perdido de minha mãe e perguntei: em que vc está pensando?
E ela sem mover a cabeça me disse:
Tenho tanta saudade
Sem pestanejar perguntei novamente: saudade de que?
– Não sei! Saudade de tanta coisa que eu não vivi, dos lugares que não fui.
Do alto dos meus 20 e alguns anos eu achei aquilo tão sem sentido, que logo tentei dar uma curva naquela quase tristeza e fiz mais uma pergunta:
– Mãe se você fosse viajar hoje, pra onde você iria?
Sua resposta saiu sem tropeçar na voz, sem mover o rosto, sem piscar o olhar:
Com uma naturalidade pálida na voz ela disse uma única palavra,
– Luxemburgo!
Por um momento, o tempo parou e pediu licença a minha mãe pra continuar a passar. Seu olhar estava tão iluminado que era como se a vida, o mundo, o universo, cuidassem somente dela, e deixassem de lado todo o planeta, de tal forma que fiquei bem sem jeito, sem conseguir molhar as palavras.
Só me perguntava de onde minha mãe, que nunca saíra do Brasil, havia tirado essa resposta – Luxemburgo!
Será que em algum filme? Algum ator ou alguma atriz teria falado algo! Sim só poderia ser isso, ou em uma revista. Quando uma mulher tão afastada da escola que quase nem desfrutou, pensaria em Luxemburgo?
Mas ela seguiu a me dizer que era uma cidade iluminada, não com um luz qualquer, mas como aquela do sabonete Lux, uma luz luxuosa que era derramada na televisão durante os reclames.
Me retirei um pouco atordoada e deixei minha mãe em meio a suas fantasias em torno da palavra Lux, pensando em quem seria aquela mulher naquele momento.
Hoje, tantos anos depois, sempre lembro daquela luz, daquele Luxo derramado no rosto bonito de minha mãe.
E cada vez mais perdida em meus horizontes, sinto saudades.
Saudades esquisitas, daquilo que não vi, daquilo que não vivi,
das risadas que não ri, das músicas que não cantei, dos beijos que não beijei.
Hoje, tantos anos distantes daquele dia, sinto saudades de Luxemburgo.
2 Comments
Bonito demais, Dora. Um texto cheio de saudades, do que foi e do que não foi possível de ser… e que nos faz, igualmente, ter saudades…sabe-se lá de que.