
Viajando eu ando,
E andando eu olho.
Eu olho no olho de quem anda
Eu olho pelo olho de quem olha,
E eu vejo.
Vendo eu viajo,
Viajando eu vivo.
Eu vivo no olho de quem viaja
Eu vivo de olho em quem vive,
E eu penso.
E Pensando eu passo,
Eu passo de olho em quem pensa
Eu passo de olho no meu passo,
E eu sigo.
E seguindo eu volto.
Voltando eu chego,
Eu chego no olho de quem volta,
Eu chego com os olhos de que chega.
E descanso,
Descansando eu desfaço,
Eu desmonto,
Eu desarrumo e me desmancho
E no desalinho
eu descrevo e desenredo
o despertar de outros desvarios.
9 Comments
Versos movimentos que convidam a caminhar junto. Um devir viajante em que o outro, aquele que, querendo ou não, sempre nos acompanha em diferentes jornadas, nos provoca e afeta. A estrutura do texto, gerúndios e conectivos que se sucedem em repetições rítmicas, reforça a sensação de tempo presente que passa enquanto a poeta, generosa, compartilha experiências. Nós, leitores em confinamento, agradecemos.
Linguagem labiríntica, uma palavra leva à outra associando nessa cadeia as emoções que cada uma carrega. Se segue e se volta, se desmonta, se desperta, mas o que fica sempre é o olhar: “Eu vivo no olho de quem viaja/ Eu vivo de olho em quem vive” e “Eu chego no olho de quem volta,/Eu chego com os olhos de que chega.”. Achei esses versos muito potentes.
Fui lendo e me deslocando. Você construiu um fluido de gente no qual você é o outro e você mesma em constante movimento. A viagem que o poema proporcionou não é vertiginosa. É como um passeio na beira da praia quando somos únicos, embora sejamos um fluxo contínuo e inseparável ao mesmo tempo. Você é narradora e narrativa. E o ser é ele próprio a viagem e o viajante.