
Queria ser como os gatos
Ser somente para mim mesma
Dar conta apenas do que me cerca
Amar o que os olhos alcançam
Odiar por dois segundos e depois pronto
O ódio dos bichos é mais medo
É mais escudo e menos arma
Seria elegante com minha própria pele
Lamberia meus problemas bem lambidos
até ficar tudo organizado e limpo
Pularia onde não devo pra depois
fazer tudo de novo igualzinho
com cara de gata marota inocente
Exigiria colo quando quisesse
e me faria difícil diante dos carentes
sem qualquer consequência
para a minha vida social atribulada
Dormiria a metade do dia
A outra metade seria um trovão
Mostraria a barriga sem vergonha
e as garras lanhariam o sofá
dos que acham que são donos
de mim e de todas as coisas
Não seria coisa e nem gente
Seria um coral de cantos
rasgados, tortos e tão ferozes
quanto de um tigre domesticado
Sairia ilesa toda noite
Me espriguiçaria ao amanhacer
2 Comments
Agora eu também quero ser como os gatos, Mônica. Isso é a potência da sua poesia. Adorei!
Lamberia meus problemas bem lambidos
até ficar tudo organizado e limpo
Monica, como eu tb. gostaria de poder fazer isso!
É,
Você faz mesmo Poesia nos pormenores da vida de “gatuna”
M. Julia