Eu queria parar de pensar, dominar os pensamentos, afundar a consciência na quietude e no silêncio e escrever uma crônica calma e feliz. Eu queria esquecer as perguntas: Por que os seres nascem e morrem? Por que os semelhantes dão origem aos semelhantes? Por que de uma árvore nasce outra árvore, de um cão nasce outro cão, de uma mulher nasce uma criança? Por que somos tão diferentes? Por que elegeram o capitão? Por que é tão difícil entender tudo isso?
Eu queria abaixar a temperatura, esquecer as palavras duras e mudar de assunto. Queria poder esquecer tudo que foi dito e seguir como se tudo fosse como antes. Queria ir até a esquina, sentir o calor da tarde ensolarada e como quem não quer nada, voltar e esquecer o projeto de estado e os planos do novo presidente. Eu queria falar de outra coisa. Eu queria achar que nada disso tem a ver comigo, que não sou parte de um todo. Eu queria desligar os microfones e não estar nem aí para as novas decisões do governador. Eu queria esquecer a política, a sociologia e a filosofia. Eu queria mudar de assunto e falar de outra coisa. Eu queria que nada se tivesse para falar do capitão, nem do juiz. Eu queria deixar a vida se levar e a poeira decantar.
Em momentos como esse é preciso relaxar e não entrar em pânico. Sentar, parar, alongar a respiração, ampliar a visão, soltar as tensões e as perturbações. Deixar ir. Não posso ficar assim para sempre. Eu queria mudar de assunto e falar de outra coisa. Vai passar. Vou conseguir esquecer as ameaças do novo ministro. À medida que o ar se expande percebo formas de me equilibrar. Ninguém realmente sabe o que acontecerá de um momento para o outro: quem seremos e o que iremos encontrar mais adiante?
Afinal, sempre foi assim. Não sabemos mesmo nunca o que vai acontecer. Nada de mais.
4 Comments
https://youtu.be/KDXX7m3iBzc
Sim Mônica, não temos lá muito controle. Você está sendo sábia.
Angela que texto bonito e realista sobre os sentimentos de impotência, incompreensão que às vezes temos perante certos pacotes que a vida nos apresenta, ora nos brindado, ora nos punindo (o kit capitão, p. ex).
Somos todos muito diferentes. Curioso, pois meu tema também tem a ver com isso.
Fui abandonando esses pensamentos aos poucos, não tentando entender a origem dessa escolha, apenas aceitando que o país é muito maior que meus pensamentos. Não temos controle sobre muita coisa e nessas horas essa consciência cai como um bloco de concreto na cabeça.