A depender da boa vontade dos astros, jamais deveríamos nos aproximar: ele, de elemento terra, os dois pés bem fincados nela. Eu, bicho doido correndo sem rumo. Metade gente, metade cavalo. Metade desespero, metade aflição. Metade gargalhada, metade dramalhão. Metade incêndio, a outra também. Como explicar o tanto que gosto dele?
Talvez por tudo que me falte. Porque seja sábio, prático, resolutivo. Porque me segure na terra, quando me disperso no ar. Talvez porque eu goste quando ele sorri. Talvez porque longe dele estou sempre um pouco sozinha.
Esse ser de touro é todo ética. Respeita as mina. Entende as mina. As mais sacanas, as presumidas santas e as putas assumidas. Gosta delas. Um Bukowski sem medo de ser decente.
Ele não fura fila. Não sonega imposto. Não explora o trabalho de ninguém. Não paga propina. Não quer levar vantagem. Cumpre as leis de trânsito. Não recebe troco superfaturado. Não dá jeitinho. Ele dá soluções. Ele é o homem das soluções. Das boas opiniões e conselhos. Das grandes sacadas. Ele é o sujeito que respira e aponta uma saída. Ah como preciso dele por isso! Que privilégio contar com alguém assim!
Às vezes é chato de doer. Se mete onde não foi chamado. Emite opiniões que ninguém pediu e fica bravo por não o ouvirem. Amarra a cara. Fecha o tempo. Muitas vezes se enrola e se enforca na teimosia, esse traço tão característico. Impossível argumentar nesses momentos. Não vou negar, muitas vezes é teimosia burra e vaidosa. Não raro, é certa coragem intelectual também.
Ele entende de liberdade. Respeita diferenças. Compreende desejos. Não, esse ser de touro não é do tipo que se encontre em qualquer esquina. É humilde; ranzinza; gentil; temperamental; engraçado; autoritário; amável. Ele é gente. Não finge que não é.
Os astros anunciam que somos fogo e terra. Eu nunca me senti apagar ao lado dele. Acho que nossas diferenças nos iluminam e podemos enxergar, um no outro, detalhes quase imperceptíveis a olhos forasteiros. Por isso somos capazes de nos ajudar e sermos tão reais quando juntos. Danem-se os astros, os signos, os búzios. Ele será sempre a minha paz.
11 Comments
A releitura do seu texto, o conteúdo e a forma de você mostrar a relação, me tocaram de novo. Você vai ao fundo das coisas sem “apelação”.
Vamos continuar rodando com você!
Júlia
Há de se ter alegria no amor, se não, não é amor. Linda homenagem, plena de vida e de entendimento do outro que está ao lado. Sendo dois, juntos e inteiros.
A astrologia nos aponta muitas tendências interessantes, mas a mágica da vida que se molda a partir das nossas essências é um mistério. O maior deles: o amor!
Linda homenagem! Vida longa aos taurinos de nossas vidas!
“Talvez porque longe dele estou sempre um pouco sozinha”.
Bela maneira de expressar a essência do companheirismo.
Verdadeiro, sucinto, mas com muito sentimento.
Que belo dueto