
O Fado, a Figueira, a Foz
Tempestade lá fora
Calmaria aqui dentro
E o tempo, faz o que de nós?
Sou abrigo longe de mim
Feliz e solta no vento
Entretanto, incompleta
Saudade miuda e inquieta
Não arreda pé, não transborda
Um desalento sem ser tormento
Nem chora, nem se ri, nem nada
É água parada dentro do peito
Sentimento eu tenho demais
Raízes aéreas, mãos ao alto
É um assalto! De pertencimento
Lá gente amada, pátria ferida
Cá meus pés não encontram chão
Caminham em pedras medievais
Mares turquesa a correr em canais
Rizomas de árvores desfolhadas
Rebento todo dia em rosa pequenina
Carne de caju, coração vagabundo
Caminho sem documento, sem mundo
A seguir os labirintos desse chão de giz
8 Comments
Tempestade lá fora…Calmaria aqui dentro. Exatamente isso e não o contrário. Nenhum domínio temos sobre o “la fora”. Poema lindo, cheio de sensações e de sentimentos – da autora, e de nossos próprios, quando lemos, encantados.
Fico muito feliz com seu encantamento!!! Os poetas sempre, intimamente, almejam encantar <3
Fado, Figueira, Foz! Lindo, sonoro, visual seu retrato do sentimento de não pertencer, dos pés que não encontram chão nas pedras medievais, do ser estrangeiro. A leitura do seu belo poema me comoveu. De repente, me confrontou com sensações já vividas.
Imagino que essa sensação de estrangeira seja recorrente para você. Obrigada pelo carinho!
Adorei como vc enlaçou coisas da natureza aos sentimentos: raízes aéreas, carne de caju, rosa, vento, tempestade. Somos muitas coisas e somos todas um todo com o mundo.
Para mim está tudo conectado! 😉
Que bela leitura, Eliana!!! <3
Referências à terra daí, Portugal, e daqui, Brasil cada vez mais brazil. Laços de música, de paisagem e de alma. Laços de menina que está longe, de mulher perto da paixão. Leveza que se pode ter no momento. Poesia linda que se quer sempre.