Sim, a matéria vida é muito fina
A qualquer momento se desfaz, sai fora da retina
Entre os acordes de um xote ou um prelúdio,
Sem mais nem menos, sem delongas ou esperas.
O porquê desta matéria delicada e vulnerável,
Que nasce, cresce, morre
Deixa vácuos, silêncios, dores,
A constante indagação
Estar vivo é o sentido?
Pergunta sem resposta
Cada qual que ache a sua,
Adoce o coração com cajuína
Que, conforme a bula,
Restaura qualquer retina
E faz bem ao sistema imunológico.
“Existirmos: a que será que se destina? Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina .Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina. A cajuína cristalina em Teresina”. Caetano Veloso
6 Comments
Gosto como seu texto, já desde o título, está mais preocupado com as perguntas do que com as respostas. Pois são tantas e tão subjetivas quanto as possibilidades de existência.
Ao referir-se à “matéria delicada e vulnerável”, a poesia chega com tristeza discreta, questiona sentidos e se arremata com suave comicidade, que ninguém é de ferro. Trata-se da sensibilidade e vivacidade de Júlia, com certeza.
Nossa roda roda-roda de doçura de cajuína! Não sei a que se destina viver, mas que a vida tem sim sua gostura e também suas amarguras. É sempre uma mistura. Estarmos juntas dosa bem pro doce. <3
Que bom conhecer Julia na poesia! Ligeira, delicada e, mais uma vez, precisa. Não tem resposta – vácuos, silêncios, dores – mas tem a cajuína, que adoça a falta de sentido…e, quem diria, fortalece o sistema imunológico!
Existirmos, em essência a mesma matéria da mesa, do crocodilo, do mar, da barata. Amei Julia!