
Van Gogh Museum, Amsterdam
“— Que lindas botas! — exclamou. Estava envergonhada de si mesma. Elogiar suas botas quando ele lhe pedia que consolasse sua alma” .
Virginia Woolf, Ao Farol. Tr. Tomaz Tadeu
as botas são um par de botas e algo mais
masculinidade, poder, dinheiro,
qual o seu trabalho,
qual o tempo que faz.
as botas escondem os pés e algo mais
as raízes, os calos, os hábitos,
qual o seu caminho,
o que te sustenta.
as solas das botas ensinam
é preciso ser dura, é preciso resistir
os saltos das botas dizem
um conforto, um espaço entre
o chão e o seu pé
como se a carne precisasse
de abrigo da vida
como se a carne não fosse
a própria vida.
notáveis, esculturais, colossais
as botas são algo mais
um espaço entre
o objeto e a consciência
o nó dos cadarços fechando
a vontade de dizer além.
4 Comments
Hoje em dia só quero saber de botas um número acima. Onde minha existência cabe dentro de uma meia fofinha e quente.
Palavras, poucas, precisas, para algo aparentemente banal. Botas. Sobre quem as habita. Sobre como elas nos habitam. Entre o movimento, um mundo. Sobre o mundo, um texto. Sobre o texto só posso dizer, complexo, maravilhoso.
Forte, concreto, bonito! Cada frase com seu peso e verdade., Parabéns, Carolina!
Incrível como essas botas se agigantaram diante de mim. Todas as referências – trabalho, tempo, poder, caminho, conforto ou falta dele – me fez pensar em uma masculinidade construída há tanto tempo, que agora, esses homens não sabem como descalçar descalçar suas botas. Como devem se sentir perdidos esses homens com seus pés nus.
Amei e viajei na tua métrica.