Vaneska M.
Ela é tão essencial para as mulheres que nem deveria ser chamada de acessório. Não há registro histórico de mulher alguma, nem mesmo a mais hippie ou desapegada que não tenha seu modelo preferido e não tenha ao menos umas três penduradas pela casa. Há mulheres obcecadas por elas, acumuladoras. Muitas as carregam repletas de simbologias. Muitas as ostentam como prêmios.
De ombro, a tiracolo, tipo mochila, de couro, parecendo couro. Barata, responsável por endividamento de meses, neutra, colorida, exótica. Seja como for, ela, a bolsa, é quase uma extensão feminina. Se a bolsa é da mulher, é em seus femininos ombros, antebraços ou mãos que ela deveria sempre estar. Somos fortes pra isso.
A visão de um gentil menino, carregando a bolsa de sua eleita, sempre me causa desconforto e estranhamento. A linda bolsinha de repente vira algo monstruoso, deslocado, um corpo estranho muito estranho.
E o que dizer do pobre rapaz? Em ombros errados, aquela enorme bolsa em verniz é uma máquina de tortura mortal. Ombros caídos, um perdido olhar de humilhação e constrangimento. Sua masculinidade ferida de morte. Ouso dizer, não sem correr riscos, que carregar a bolsa da eleita equivaleria à castração.
Eu poderia defender essa tese alegando que entregar minha bolsa seria me render ao machismo de quem acredita que não sou capaz sequer de carregar minhas coisas, por ser mulher e frágil. Mas vou muito menos fundo, meu discurso é futilmente estético. Não se atreve a tocar intrincadas relações de gênero. O que eu quero, só o que quero, é ver os meninos inteiros, felizes e garbosos por aí.
Ainda tenho algumas dúvidas nessas minhas elaborações. Ao avistar uma derrotada figura na praia, carregando uma versão que ostentava um enorme coração laranja, cheguei a cogitar que esse seria o tipo de situação em que os rapazotes, de fato, deveriam carregar nossas bolsas. Explico: eles não levam nada para a praia. Quer dizer, levam, em nossos modelinhos praianos. Talvez fosse justo ajudar a carregar suas carteiras, chaves, bermudas. Apesar disso, a imagem daquele homem, arrastando-se miseravelmente na areia, me enche de altruísmo e volto atrás. Por ele – e só por ele – eu aguentaria o peso extra.
Meninos gentis: abram portas, ofereçam ajuda, sejam carinhosos. Respeitem nossos corpos. Entendam que somos donas absolutas deles. Admirem nossa liberdade. Não nos determinem funções. Não nos imponham padrões. Estejam ao nosso lado por igualdade. Nos vejam múltiplas. Mas meninos, por favor, mantenham-se afastados de nossas bolsas.
Note, moço gentil, se a bolsa é sua e você está feliz com ela, pouco me importa ser for rosa, azul, brilhante, enfeitada de frufrus. O que eu não quero, moço, é te ver submetido. Eu te quero livre como eu.
Eu sei mocinho gentil, se você é realmente gentil, é muito tentador, mas seja forte. Não se ofereça para carregá-las. Não ceda aos convincentes apelos da moçoila para fazê-lo. Não se deixe oprimir, há mulheres que jogam esse jogo. Ela dá conta. Caminhe ao lado.
Hoje eu quero apenas
Uma pausa de mil compassos
Para ver os meninos
E nada mais nos braços.
*Para ver as meninas, Paulinho da Viola
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