
Adoro esse momento da noite
quando a madrugada acorda
Parece que a vida é silenciosa
Parece que o mundo é calmo
Vem um chuvisco difuso
igualando o horizonte e as luzes
O céu é branco, mas não há luz
Um fundo neutro sem identidade
A brisa fresca engana a pele
O outono teima em ser preguiçoso
O verão teima em ser insolente
Ouço gotas esparsas de chuva
Como pegadas vagarosas no ar
De pés que não tem destino
A cidade é mais serena sem gente
Entre a vida e o descontrole
Há um preço ceifando almas
Nesse momento da noite
Dormimos o sono dos inocentes
Às custas do inferno dos outros
2 Comments
A necessidade de enxergar o entre das coisas, o desejo de uma certa neutralidade em meio ao desalento e, no final, a constatação da impossibilidade de qualquer afastamento ou pausa nesses dias sinistros.
Sim, a cidade é mais serena, é ela mesma, sem gente quan do a madriugada acorda.
Enquanto nós dormimos indiferentes, o sono dos inocentes.
Belas imagens, o clima do vazio e da quietude tão bem expressos!
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