
A vida pode ser colcha florida
A abanar no varal dos costumes
Pode ser galinhas a ralhar
Ervas a podar, leite a derramar
A colcha dourada de sol
Vai e vem a secar
Lágrimas se vão
Alegrias chegam
Viajar e viver
Não são nunca sossego
Uma blusa azul de céu
É memória em dia de chuva
Tantos braços firmes
Pés calejados
Ombros cansados
Olhos deslumbrados
Um fachada azul é mesmo azul
Mesmo em dia cinzento
A andar com sandes nas mãos
A jantar à mesa cheia e comprida
Consoladinhos de vinho verde branco
que aquece eialma e solta gargalhadas
O sono é dos justos, dos peregrinos
Sempre sedentos de dias ensolarados
E perseverantes nos dias nublados
As artes à vista, os encontros à beira
As pedras de dois mil anos,
firmes e sólidas,
são como o coração dos viajantes
6 Comments
Poema impressionista a pintar, em toques de cor e luz, os costumes e a alma da gente e da terra lusitana. A viagem acontece em um pedaço de mundo que é mundo inteiro. O chover, o ensolarar, a solidez das pedras e a fluidez dos quintais. Eis a vida, a viajante poeta fala.
Um poema que torna visível a saudade, uma viagem que é aquela que se percorre pelos afetos, memórias e encontros. É um poema especial para este momento que estamos vivendo: “Sempre sedentos de dias ensolarados/E perseverantes nos dias nublados”.
Curioso você falar dw saudade. Eu escrevi esse ainda lá. Vai ver já estava com saudades antecipadas
A impressão que tenho ao ler esse texto é mesmo uma IMPRESSÃO. Me remete aos impressionistas e impressionismos. Tem tanta cor nesse poema/quadro, cores iluminadas de sol, cores empalidecidas pela falta de sol. Tem roupas, tem copinhos, tem caminhos. A paisagem vai se abrindo e nos permitindo viajar nesse quadro. Me senti mesmo como uma viajante, desvendando lugares, espiando aqui e ali e descobrindo motivos para novas viagens. Lindo.
Fico feliz com suas impressões. Era essa mesmo a inteção!
“Viajar e viver
Não são nunca sossegö”
Falou Monica, da tua maneira bonita de ir elucidando as coisas de frase a frase!
Julia