
A fé é um não sei dizer o quê
de profundidade que desconheço
É enxergar na metade vazia
do copo inteiro, a parte completa
É a solidão que não aflige,
a escuridão que não assombra
A fé é dar-se um tanto
sem saber nada da troca
Sentir doçura no fluxo
das coisas aleatórias e vivas
E na partida mais cinzenta,
sentir-se almada
Mesmo aos pedaços
Como flores despetaladas,
a fé é perfumada, aveludada
Tem cheiro de sol nascente
A fé é a rainha do mar
É a dança dos orixás
É cruz, castigo, perdão
É guerra santa
É paz sentada em lótus
A fé reside impassivel
na Catedral de Gaudí
nas aparições de Fátima
no tronco das árvores
na areia das praias
no coração das mães
na oração das mãos
5 Comments
O seu “a fé é” me fez pensar onde a fé “está” – ela está no (im)possível do viver, viver apesar de… é ter fé! fé é viver através do belo inventário que vc nos presenteou 🙂
Poesia de quem traz em si a alegria, a positividade da vida. Dá vontade de querer sentir o cheiro do sol, o nascente e o poente, ou daquele que habita todas as coisas. Aquele que é fogo, luz, poeira e força e cria mundos.
Lindo! Um banho de fé, um banho de luz, um banho de vida!
E uma métrica deliciosa. merece uma melodia!
Conciso, poético, bonito, certeiro e mesmo comovente
Uma lindeza de poema. Verso após verso, esquenta o coração. Costura diversas faces da fé, numa linda colcha de doçura e delicadeza.
Termino de ler me sentindo “almada”!