Eu procuro, mas não elas nem sempre estão alertas, prontinhas, na ponta da língua, esperando para se fazer ouvir. Pelo contrário, se acovardam, ficam paralisadas, tímidas perante situações que pedem legítima defesa. Quando resolvem se manifestar, às vezes saem entrecortadas, picotadas, hesitantes e não consigo terminar as frases de uma forma completa e elegante. Isso também acontece com vocês?
Conheço pessoas que falam discursando coerentemente. Outras, pelos cotovelos. Algumas, que não respondem. Várias, que só perguntam. No entanto, falar pode semear interesse, encantamento, sedução. Desde que o verbo (sim, com minúscula) habitou entre nós, não paramos de exercitá-lo a torto e a direito, à procura de interlocutores, afetos e adeptos. Muitos se dão bem, cativam apenas com um discurso em praça pública (Speakers’ corner no Hyde Park ainda existe?) embora o que digam nem sempre se escreva. Sim, ter lábia é um dom divino e disso muita gente sabe tirar proveito. Basta pensar nos valores absurdos pagos por uma palestra de ex- presidentes com carisma discutível. As palavras têm um poder imenso, inimaginável assustador; salvam e também destroem, pois a língua é uma metáfora que ativa a autoconsciência, mas muitas vezes arrasta para o mal. E neste espaço as palavras primam pela força da paixão e do ódio, sentimentos tão atávicos ao ser humano.
Entretanto, já vimos um príncipe da Dinamarca relativizar essa importância. O que estava lendo? Palavras, nada mais que palavras, disse ele. Diante de graves acontecimentos e da efemeridade, o vasto questionamento existencial, para além da vida e da morte, nem sempre se encontra palavras. Melhor então, será limitá-las a casos de grande emergência.
3 Comments
As palavras ora faltam, ora abundam. Ora encantam, ora destroem. São imprescindíveis até mesmo para darmos valor ao silêncio e ao momento “sem palavras”. Boa reflexão!
Spu do tipo que usa melhor as palavras quando escritas. Na fala nem sempre sou afiada na resposta por ser mais ponderada que passional. Às vezes gaguejo, tropeço ou silencio.
Júlia, você não está só!
Nada mais que palavras. Em caso de emergência, de desimportância, de ódio, amor, para esquecer, para lembrar. Palavras.
Um texto para irmos ao infinito com e sobre as palavras.