Era inverno autêntico, noite clara
Colete azul, cabelo excêntrico
Nada é lógico naquele encontro
O universo em lapso estapafúrdio
Horas confusas de tanto rodar
Intrigas antigas, corpos e olhares
Enredo de emoções que transitam
Embrulhadas no imbróglio do tempo
Anos gestantes: a pele transparece
O desejo no peito cresce ventral
Porta-embrião, flor amor-perfeito
Marsúpio de mel de café e canela
Pequena fonte desliza entre os lábios
Espaço macio entre escudos históricos
No reverso da pangeia, continente íntegro
Rio de fontanelas, mar nascente e inteiro
12 Comments
“Quando tu me amazonas no cais sempre fui Marajó, se calhar quando douras me dás a Ribeira e a Foz.”
É bonito ver de perto a Arte brotando dos seus poros, de cada poro um morfema… e sua lanugem por fim tecendo tudo, temperando a temperatura da literatura.
8
<3
Como conheço o moço do cabelo excêntrico, li o poema a imaginar vocês dois juntos. Lindo, romântico e muito bem escrito. As palavras encaixaram tão bem, que parecem ser usuais. Senti também uma pegada Lusitana. Seria por conta dos anos em Lisboa?
Eliana, a essa altura acho impossível não ter esse tempero já que o moço de cebelo excêntrico é um lusitano. O mar, o azeite, o vinho, o tempo, as distâncias, a saudade… tudo aflora. <3
Como na foto de um azul profundo seu texto nos leva para uma outra dimensão. Já não estamos mais no planeta Terra, saímos… decolamos para um ponto no firmamento, na poesia, nada mais é lógico… “Enredo de emoções”… uma deliciosa volta à época pré-homérica, época de um enorme entusiasmo… como videntes vemos coisas que ninguém mais está vendo… temos nas mãos a chave que nos dá acesso ao mágico… ” o desejo no peito cresce ventral”. Obrigada, parabéns.
Que leitura belíssima você fez!
Obrigada pelo entusiasmo nos olhos, o coração selvagem e a mente iluminada pela luz azul do fundamento de dentro do peito <3
Original e bonito, Mônica, incrível conseguir fazer poesia com palavras tão pouco usuais. Gostei muito do título e das vertentes fluviais para onde tudo acaba se convergindo depois das” horas confusas de rodar”..
Obrigada, Júlia! Nosso idioma é tão lindo que é possível fazer poesia com qualquer palavra. Até as mais estapafúrdias rs
Impressionante como num poema palavras que desconhecemos podem fazer tanto sentido. Bem, não acredito que em todos os poemas, mas naqueles muito bons.
Lindo poema sobre o encontro de vocês dois e as palavras em volta.
Vaneska
Obrigada pelo carinho! Fico feliz que nossa dança com as palavras inusitadas tenha ficado bonita <3
Que alegria!
Putz amei