
QUASE
O ar parado traz o medo
sufoca a alma
afoga a palavra.
O suspiro traz o tédio
denuncia cansaços,
desfaz anseios,
atrasa sonhos.
A brisa traz aroma,
desperta desejos,
cafés, cafunés
carinhos, beijos
sussurros em outro idioma.
O vento traz o perfume
anuncia presenças
antecipa o amor
dissipa a neblina
bate a vidraça,
embola a cortina
A ventania abre o céu,
desnuda astros
esconde a lua
nos mostra Júpiter.
Um astro antítese,
uma quase estrela,
de um quase brilhar,
em movimento lento, pesado,
arrastando suas tantas luas
em um longo passear.
Júpiter quase brilha,
o café quase se espalha,
o ventar quase acalenta
e viver nos inebria de uma
quase felicidade.
7 Comments
Você disse quase tudo sobre Júpiter, o café e o vento e os seus possíveis movimentos quase musicais.
Um abraço,
Elaine
No seu poema só o enebriar da vida é inteiro, não fica no quase. Ainda bem que viver nos enebria – por inteiro, de uma quase felicidade. Talvez as quase felicidades sejam as mais necessárias em nossas vidas, por elas é que seguimos todos os dias, sem pensar muito a respeito. Voei nos ventos do seu poema, Dora.
Linda a imagem do medo que vem da paralisia e de alegria gradual e quase plena, mas não, que vem do movimento.
Seu poema, Dora, se desenrola progressivamente como se fosse uma sinfonia. Vai do silêncio, ar parado; passa pelo muito lento, o suspiro; pelo adágio, a brisa; pelo andante, o vento; e encontra o clímax, a ventania. O lugar de chegada é o quase, esse entre, esse não lugar, esse contínuo espaço-tempo onde vivem os poetas.
O ar parado, o suspiro, a brisa, o vento e a ventania. Todos de alguma maneira responsáveis por alegrias e tristezas, mas que no seu texto se chamam “quase felicidade”. Bonito conceito, bem melhor do que ser absolutamente triste ou absolutamente feliz. A beleza de viver reside justamente aí no “quase”.
Cafés, cafunés, carinhos, Dora você “quase” leva a gente com a ventania do seu belo texto!
Se nossa rotina está cheia de quase felicidades, seu poema é uma exceção de felicidade inteira!