
Desmonta estantes
Arruma estantes
Em questão de instantes
Tudo mudou de lugar
E ninguém se muda
Mudos em casa
Surdos nas ruas
Pandemônio, peste
Flagelo humano
Um copo d’água
A não-vida em cápsula
Engole seco
Que o medo é quente
Anti-corpos zanzando
Mentiras lavadas
Mãos cansadas
Rostos-ostras
Olhos de dançarina
do ventre, um avental
Descarta o mal
Silêncio no peito cansado
Em questão de segundos
Somos sopros, rascunhos
Pincelada em faísca
Carvão em borrão
Soneto sem rima
Arroz sem feijão
Destino, fado, sina
6 Comments
Versos da confusão e do mal estar da vida, agonia, na pandemia. Não faltaram a critica às mentiras e às imagens emblemáticas dos dias atuais. Mãos cansadas, rostos encapsulados, silêncio aflito e dias sem graça.
Lendo seu poema fiquei imaginando ele como uma letra de música… e com seu olhar muito expressivo para o momento que estamos passando. Achei seu texto tão delicado que contrasta com o título.
Poesia tão rica de situações, imagens, estados de espírito, estrofe por estrofe desvendam o momento em que vivemos.
Acho que o poema se oferece ao leitor em todas as suas imagens. Teu poema identificou em mim o “Silêncio no peito cansado”. Sim meu peito está cansado e silenciosamente se preenche com a os teus versos, teu soneto sem rima. O cansaço talvez perdure, mas certamente o silencio em meu peito foi rompido ao ler, reler e pensar nesse pandemônio poético que você nos oferece e a sacududa que ele nos dá, nem que seja pra cantar um fado. Muito lindo!.
“Do ventre, um avental descarta o mal” … para que serve o poema, senão pra transformar a realidade dura em arte?! Para mim, esse é um dos versos mais cheios de significados que li em meio ao pandemônio. Fritando o alho, fervendo o molho em fogo baixo, assando bolos… tenho descartado (quase todo) o mal. Para que o poema surta todos os seus benéficos efeitos, recomendo a leitura em fogo brando, acrescentado lentamente verso por verso, aroma por aroma. Amei.
“Do ventre, um avental descarta o mal” … para que serve o poema, senão pra transformar a realidade dura em arte?! Para mim, esse é um dos versos mais cheios de significados que li em meio ao pandemônio. Fritando o alho, fervendo o molho, assando bolos… tenho descartado (quase todo) o mal. Para que o poema surta todos os seus benéficos efeitos, recomendo sua leitura em fogo brando, acrescentado lentamente verso por verso, aroma por aroma. Amei.