Angela Fleury
É preciso encarar o bicho, não vamos controlar tudo, não vai dar.
É preciso encarar o desamparo, o terror e entender que a vida que nos cerca é terrível. É preciso encarar o bicho. Estamos desamparados dentro de um barco no meio de um mar revolto. E o pior, somos por dentro um mar revolto. Estamos perdidos e sozinhos numa noite escura. O chão se move, as paredes balançam e o teto está nervoso. Não há como fixar, estabilizar, estancar, voltar atrás e suspender a viagem. Não quero mais, mudei de ideia, não quero mais, não, não vai ter jeito, é preciso encarar o bicho.
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O texto de Ângela me lembra uma distopia, representação do mundo em que há um controle opressivo da humanidade e onde normas são flexibilizadas e limites ultrapassados. A ideia de distopia tem em contraponto a de utopia, de uma sociedade justa e ideal
Se por um lado sou solidária aos sentimentos expostos no texto, por outro, sou levada a desconfiar da visão catastrófica que nele se sobressai. Com o protagonismo do mundo virtual, há uma tal overdose de sensações, de informações e de críticas de tudo e de todos, que fico sem respostas. Estamos no olho do furacão de um mundo em mudança. Se isso é ruim ou não, não sei.
Quem não estava encarando o bicho, o faz a força, porque seu texto é forte. Em tempos de tanto autocentrismo, lembrar que não somos o centro do universo e de que precisamos nos conformar é sempre uma mensagem poderosa.
Por outro lado, a lembrança de tudo aquilo que não precisamos é confortadora, é alento e faz crer que encarar o bicho é libertador.
Gostei muito do estilo "pancadão" rs do texto. Uma novidade muito agradável.
Vaneska
Muito interessante e à propósito, Angela, este seu texto sobre os seres ambiciosos, violentos, predadores, primatas que somos. A gente lê de um só fôlego concordando com sua tese: é preciso ter consciência da nossas limitações e saber parar. Parar, encarar e, se preciso, retroceder.