ESTREITEZA
Mesmo emaranhada nas miudezas existenciais cotidianas está fácil perceber que há um choro doído e coletivo. Como que embolada em muitas esferas, por todos os lados, por todas as frestas, dilemas éticos e morais se enredam dentro de uma confusão. Como se em uma atmosfera de baixa pressão, perco o foco e fico tonta. O ar parece faltar, mas ainda há oxigênio, pouco, mas, ainda temos como respirar. Pressão nas costas, no peito, que às vezes sobe para a garganta. A consciência se estreita, a rua se fecha e a visão turva. Engasgo, me recomponho e sigo, não estou só, encontro alguém que me traz de volta. Mas logo, um pouco de atenção, um olhar, um ouvido mais apurado e escuto novamente estranhezas estreitas e convictas que chegam de aonde menos se espera. A inconsciência toma o poder, confunde e contrai tudo em volta. É difícil ver o tamanho da desorientação. Já não reconheço. Perda total? Fumaça, os óculos embasaram? O que é isso?
“Não haverá paz neste planeta enquanto os direitos humanos forem violados em alguma parte do mundo”, afirmou um dos autores da Declaração Universal dos Direitos Humanos, ganhador do Nobel da Paz, René Cassin. É urgente trazer à tona o mundo da percepção e da sensibilidade a fim de libertá-lo de tudo que o oprime e que parece não mais dar conta de desvendar a obra da vida. Precisamos superar a incapacidade de conviver com a diversidade que tanto amedronta. Desapegar da ordem, a vida é desordem embora busquemos a todo custo uma organização. Somos diferentes. Não há como estruturar a vida na marra, temos que suportá-la como ela é, diversa, dessemelhante, sortida, variada, diversificada e aberta. A vida não está aqui para ser arrumada. Não vai dar para “consertar”, se livrar do outro, daquilo que é oposto e com o qual não concordamos. É necessário ter um coração sem medo, uma visão mais ampla, superar a sensação de já não aguento mais. Destrancar as portas, abrir o aspecto amplo em nós. Olhar e enxergar o outro, sem violência, sem armas tecer uma teia de afetos. Ampliar o interesse e a apreciação pela visão do vizinho. Liberar o peito, abrir a mente, abrir a casa, expandir as redes de ajuda e incluir: “Não haverá paz neste planeta enquanto os direitos humanos forem violados em alguma parte do mundo”.
5 Comments
Angela
aEssa indagação também é minha. Nós sempre querendo consertar perante o impoderável, incontornável, as contradições. A dialética inerente à vida
P.S. Atenção:não sou “marxista cultural”.
Quando li o título, sem raciocionar muito, imaginei a junção do estreito com a tristeza, vi poesia logo ali. E que tristeza nos depararmos com as estranhezas estreitas e convictas, por todos os lados. Mas você não se resigna, entende que não vai dar pra consertar ou se livrar das estreitezas e propõe lindamente que não tenhamos medo. É isso mesmo que precisamos, é a mensagem que quero levar, enfrentar meus medos ou ao menos não servi-los como alimento.
Um texto que acarinha nesses tempos duros.
“Abrir a casa, expandir a rede de ajuda” é o que mais faz diferença para a saúde mental nesse momento tão crítico.
Amei amiga !!! Tá mandando muitooo !! Eu me encontro planando , bem rasa , superficial não quero perder 1′ do tempo que me resta aqui a evolução humana tá em curso, demora e não está em nossas mãos
Relax 💋😍
Minha doce, e sempre querida amiga !
Mais uma vez fico de queixo caído com seu olhar apurado , sua sensibilidade e seu jeito gostoso e certeiro de por no papel , o que vai no peito apertado de tantos !!!
Escrevinhadora querida , escrevinhe muito !!
Obrigada por aliviar nossa garganta !
Beijos carinhosos sua amiga Mallet