
Mãe, espécie de reagente químico que aprendi a suportar após muitos anos de convivência. Um diabo de saias. Concluía as conversas: – Seu pai não vai admitir! – Não ouse me contrariar! – Desenfreada e certa de que é de pequenino que se torce o pepino.
Os belos vestidos engomados, eu os sujava de sorvete após a missa de domingo. Sonhava com os cabelos compridos das princesas, era uma, ela tosquiava sem piedade. Parecia vingança.
Cópia fiel do entrançado de visões contrárias, me tornei mistura de filme happy end com novela mexicana. Eu só queria ser normal.
Mais tarde, juntei dados sobre a história de minha mãe. Muitos irmãos, pai funcionário público, muito pequena, colégio interno – pressão da irmã mais velha, bateu o pé, não iria sozinha. Formou-se contadora aos quatorze anos, dizia espantada, no colégio de freiras onde se tomava banho de camisola.
Mas ri feliz quando encontrei, entre os papéis de meu pai, uma prova escolar da mãe. Adorei a nota vermelha. Ficou sério, talvez para não feri-la, talvez fosse amor. Ou medo de sua fúria, ninguém se arvoraria a julgá-la.
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Para mim, o texto mostra que os humores, seja bom ou mau, tem muito a ver com genética e experiências de vida.