“— Que lindas botas! — exclamou. Estava envergonhada de si mesma. Elogiar suas botas quando ele lhe pedia que consolasse sua alma” (trecho de “Ao farol” de Virgínia Woolf)
Botas um ponto final
Eu rabisco ponto e vírgula
Meio trêmulo,
meias verdades
Tu pisas,
eu inseto
apaixonado
pelo inseticida
Consolas-te
com remorsos
Consolo-me
com angústias
Amar-te é
caminhada nua
em poças de chuva

4 Comments
As vezes fica difícil materializar em palavras os sentidos que emergem da leitura da tua poesia. Mas estamos aqui buscando cada vez mais esse amalgama palavras, sentimentos, sensações e vivências. E pra mim essa poesia é isso – uma amalgama – uma alma que ama e que poetiza uma gama de sentidos e sensações. Tua poesia é absolutamente inspiradora. Com ou sem botas, vai – poetizar insetos e universos.
As assimetrias, o contraditório e o ambivalente: remorsos e angústias podem ser buscados como o inseto busca o inseticida.
Adorei a imagem e os sons da estrofe final, de alguma maneira consolaram a instabilidade do restante do poema.
Poesia em diversos momentos, espaços, sentimentos, Rabiscos preciosos.
Julia
Brincar com as palavras, os sentidos, a gramática. Bruxaria delicada. Coisa de quem tem poderes. Coisa de Poeta.