
Dias quentes e úmidos sempre me fazem lembrar do mar.
Acordamos muito tarde e a arrumação para sair foi às pressas. Aquele suadouro de costume nessa época do ano parecia fazer derreter o meu filtro solar.
Caminhamos determinados a chegar a tempo. Não queríamos perder a viagem. Embora fosse cansativo, era importante caminhar até lá sentindo o sol na pele e o vento no rosto. Sentir essa liberdade naquele momento era mais que importante. Mas era preciso chegar antes do pôr-do-sol.
Não perdemos a viagem por pouco.
As flores liláses que margeavam a calçada davam um tom tão delicado ao ambiente que eu quase me esqueci do pôr-do-sol. Nem tudo ali se resumia a sol e céu azul.
Avistei uma árvore muito interessante e antiga. Em seu tronco muito amplo, se contorciam raízes e troncos alheios, como capilares pulsando em silêncio. Me lembrou o cartaz de um filme de Lars von Trier.
Muitas pessoas faziam o mesmo caminho, com o mesmo propósito que nós. Não imaginei que haveria tanta gente. As sombras foram ficando cada vez mais compridas e indistintas. Guarda-sol, chapéu, água fresca. Os recursos eram muitos para não arder em febre depois.
Enfim, depois de uma longa jornada, chegamos ao destino. E bruscamente sentimos o cheiro inigualável do medo ao ler naquele papel estreito e frio: reagente. Você está com covid.
2 Comments
Atual, poético, inusitado e… incrivelmente real.
Bom ler teu texto realista e poético, com árvores de raízes e troncos alheios, com um quase esquecido pôr do sol!