
O vaso na janela
parecia um desatino
mas era só arrumação
pro concerto vespertino
Quem sabia da história
Não cansava de olhar
a menina pequenina
na janela a contemplar
E então lá pelas seis
mesma hora à tardinha
do trem soava o apito
e se espalhava na pracinha
A menina empertigada
Começava a chamar
Mamãe venha logo
Que o trem já vai passar
O trem quando passava
Brincava de ventania
E a menina da janela
Encantada aplaudia
Tem Trem, tem trem, tem trem
A moça na janela
parecia se irritar
Que hora tão vagarosa!
Que demora seu passar!
Quem sabia da história
não cansava de espiar
A mocinha na janela
pelo trem a esperar
Então lá pelas nove
no silêncio da noitinha
do trem soava o apito
e se espalhava na pracinha
A moça toda arrumada
disfarçava o seu tremer
Queria estar bem sozinha
para ver seu bem querer.
E do trem ele saltava
com um sorriso no olhar
e os dois se encantavam
pela janela, ao luar
Tem trem, tem trem, tem trem
Certo dia ele partiu
Outro dia ela também
E da janela envelhecida,
e na pracinha esquecida
nem de tarde, nem de noite,
ninguém mais espera o trem
3 Comments
Versejar de amor e tempo como cantiga para viajar. A difícil arte da complexidade feito simplicidade. Delícia de poema.
Achei uma graça o poema! Me levou lá pra Lumiar, que apesar de não ter trem, tem pracinha com coisas esquecidas pelo tempo. Me levou para Tiradentes, para Parati. Seu trem me embalou em muitas viagens
Dora
Muito linda a sua janela de tantas cores e visões e coresdoferentes, janelas envelhecidas em pracinhas esquecidas. Olhar singelo, lírico e comovente, sem sentimentalismos. Você faz poesia!