
a comunicação com os gatos sem palavras com adivinhação ou melhor, intuição informada pela rotina pelo hábito que eles observam em mim e eu observo neles sons guturais, sons primordiais miamos cada um de um jeito pra cada ocasião um jeito à minha voz humana imponho registro agudo eles sabem é com eles que despejo esses sons, grr iau iau uuu uuu comunico também com gestos estalar dos dedos, vamos tomar água chacoalhar potinhos, vamos comer pular no meu colo às seis da tarde, hora da comida vivemos muito bem sem palavras com uma exceção só uma gata sabe qual o som que a identifica michelle, digo cantando o “che” ligeiramente mais agudo mi - che - li é ela ela vem michelle, ma belle na língua tátil, áspera dos gatos na língua dos afetos michelle não é só um nome possível identidade felina senhora de si no mundo pode ser uma tradução simplesmente “vem aqui” para a gata e para mim, michelle quer dizer isso o enunciar de si é sua ação a intuição o hábito donde pra gata Bijou, “michelle” também quer dizer “vem aqui”. michelle, digo cantando e Bijou vem. pois agora descubro que pra ser gato saber quem se é é saber onde se vai eu vou por ali, michelle.
8 Comments
Narração poética sobre a relação de uma humana e seus gatos. A força dos elementos materiais, significantes, que tornam a comunicação possível entre os seres, entre uns e outros. Acho que finalmente entendi Lacan.
Eles são muito sensíveis à voz de chamego. Posso dizer qualquer coisa. Posso até xingá-los. Se for com a voz melosa, eles se derretem. A gramática deles é a do afeto. ❤
Relato sensível e delicado sobre a comunicação com gestos e afetos em som gutural